Ah, o apóstrofo...
Parece mentira
Na Grã-Bretanha, na década de 1940, o lendário Harrod’s deixou cair o apóstrofo e passou a Harrods, decerto por razões meramente estéticas, gráficas ou burocráticas, que não linguísticas. Em Portugal, porém, faz-se o caminho inverso: um pronto-a-vestir é Pacheco’s, uma cabeleireira (e se elas abundam!) é Ana’s e um bar de esquina ostenta orgulhosamente o nome do dono com apóstrofo importado — Jorge’s. O fenómeno alastra em letreiros e redes sociais, alimentado por uma vaga e errada ideia de modernidade anglófila, como se bastasse uma terminação em ’s para atribuir charme internacional ao negócio. Mas em português, metam isto na cabeça de uma vez por todas, a construção não significa rigorosamente nada. Não há posse nem estrutura gramatical que o justifique. Apenas o desejo, mal informado, de parecer mais do que se é. E pensar que há professores (!) que também escrevem assim...
[Texto 21 797]