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Linguagista

Como se escreve por aí

O seu a seu dono

 

      «Sobre o saco de plástico, Henrique Monteiro, que em 2005 o sucedeu como director do Expresso, escreveu que a ideia foi “talvez 63% Saraiva, 33% Vítor Soares”, o director comercial. O Expresso começou a ser vendido num saco de plástico em 1992 e assim foi até 2018, quando o saco passou a ser de papel» («O jornalista que revelou segredos de fontes e pôs Expresso num saco», Bárbara Reis, Público, 7.03.2025, p. 39).

      Vá lá, não lhe atribuem a invenção do plástico, e por consequência, a poluição do mundo. Tão-pouco se pode atribuir a Bárbara Reis a invenção do erro de regência verbal assinalado.

[Texto 21 093]

Regência verbal: «suceder»

Tou nem aí

 

      «Aos 18 anos, filho de Lira ganha cargo e é preparado para suceder pai» (Josué Seixas, Folha de S. Paulo, 12.02.2025, p. A7).

      Rapaz, 18 anos no Brasil é idade de pegar carona com os amigos pra ir pra festa, curtir uma praia, tentar conquistar alguém com aquele papo furado e errar o caminho no primeiro rolê de carro sozinho. Mas não, o filho do Lira já tá aí, de terno e gravata, sendo preparado pra sentar na cadeira do pai. Enquanto a galera dessa idade tá preocupada com vestibular, crush e como pagar a conta do streaming no final do mês, ele já tem cargo e futuro garantido. Sorte dele que não precisa nem mandar currículo, né? Se continuar nesse ritmo, daqui a pouco já tá aposentado antes dos 30! Rapaz!

      Agora quanto à gramaticazinha, à regência verbal: o verbo suceder é transitivo indirecto, com regência da preposição a, ou seja, uma pessoa ou alguma coisa sucede a outra. Ultimamente, porém, com a evolução, desenvolução e degradação do ensino da língua, os falantes apressados passaram, mesmo quando chegam a jornalistas, a eliminar a preposição: suceder algo ou alguém.

      No ritmo que vai, daqui a pouco a gramática também herda um cargo e sai de cena. Ô país eficiente!

[Texto 20 902]

«Morte morrida e morte matada»

Para lá dos limites

 

      Num especial, na SIC Notícias, sobre a agitação que por aí anda na sequência da morte de Odair Moniz, uma afirmação de Helena Roseta fez levantar subtilmente o sobrolho a Teresa Dimas: aquela morte «não foi uma morte morrida, foi uma morte matada». Já não ouvia isto há tanto tempo, que nem me lembrava que existia. Morte morrida é a morte natural, morte matada é a que foi provocada — é forma de dizer não apenas rara, como também para lá dos limites da gramática. 

[Texto 20 421]