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Linguagista

Como se escreve por aí

Desta linda maneira

 

      «Médicos do norte e do centro reforçam Urgências de Obstetrícia nas Caldas e em Setúbal» (Ana Mafalda Inácio, Diário de Notícias, 5.04.2023, p. 10). Os jornalistas nunca atinaram propriamente com a grafia destes termos, parecem incapazes de distinguir entre direcção e região, e o destrambelhado AO90 só veio piorar tudo. Vejam neste caso: «norte» e «centro» com minúscula, «urgências pediátricas» com maiúscula. Como habitualmente, não terá sido a autora do artigo a escolher o título, mas podemos ter a certeza de que não foi o porteiro que o escreveu.

 

[Texto 17 997]

Já não sabemos perguntar? Já não sabemos perguntar. Já não sabemos perguntar!

Ao que parece, não

 

      «E, em Portugal, como estamos nesta matéria, perguntará o leitor» («A BBC, o “caso Lineker” e Portugal», José Alberto Lemos [provedor do leitor], Público, 25.03.2023, p. 15). Então agora já perguntamos assim, senhor provedor? Pinheiro Torres, meio esquecido hoje em dia, já lhe diz como é: «Ele pegou no tal saco já sujo, mas não no chapéu braguês, aguentou-se sem chorar, porque a alma é abismo, quem não sabe?, profundidades nunca atingidas do oceano, quem o ignora?, e pouco mais se sabe além disto, inventem-se as metáforas que se inventarem, quantos livros sábios haverá sobre os mistérios da alma?» (A Quarta Invasão Francesa, Alexandre Pinheiro Torres. Lisboa: Editorial Caminho, 1995, p. 35). Muitos tradutores do inglês também têm certas dificuldades em compreender se uma frase é declarativa ou se é interrogativa. Costumam acertar nas exclamativas.

 

[Texto 17 946]