Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

Linguagista

Maria e José, nomes mais comuns no Brasil

Quem diria

 

      «Maria e José são os nomes mais comuns no território brasileiro, informa o IBGE» (Leonardo Vieceli, Folha de S. Paulo, 5.11.2025, p. A41). Com nome Maria, eram 12,3 milhões em 2022; Josés eram 5,2 milhões. Virem para Portugal só Uóxintons, Maicons, Ramiltons, Cleidsons, Wemersons, Valdisneis e outros que tais será então mera coincidência, podemos supor. Que outros que tais? Jailson, Francieldo, Odivan, Deivisson, Ruanilson ou Claudionor. Se tivermos azar (ou sorte, depende), podemos mesmo encontrar os raríssimos Abao, Abeir, Aquilo, Acrinaldo, Ashton, Chein, Natanagildo, Vitohugo, Vitctoria, Wiki, Zulu ou Zuraia. Claro que a legislação brasileira, tal como a portuguesa, prevê que se possa mudar de nome, e, com alguma burocracia e o pagamento dos devidos emolumentos, a coisa faz-se. Infelizmente, nenhum ordenamento jurídico prevê a pena de prisão para os pais que escolhem tais nomes.

[Texto 21 958]

Estamos a perder palavras

Ouçam-no, leiam-me

 

      «Estamos a perder palavras, as crianças então, muitíssimo. E não é só perder palavras. Como pensamos por palavras, estamos a perder capacidades. E para lá disso, não só palavras — e já se vê, e então quem trabalha nos jornais certamente vê isso, até na política —, é uma crise, uma espécie de doença da metáfora. A metáfora não no sentido puramente literário, mas a ideia de que há outra coisa para lá das palavras. Algo além do meramente material, do banco de jardim onde estamos, da árvore que nós vemos, que há algo para lá disso» [afirma, em entrevista, Jacinto Lucas Pires]» («Jacinto Lucas Pires. “Estamos a perder palavras. Como pensamos por palavras, estamos a perder capacidades”», Carla Alves Ribeiro, Jornal de Notícias, 5.08.2025, pp. 28-29).

[Texto 21 942]

Reformas e retretes

Uma reflexão sobre e na retrete

 

      Dizia ontem Le Figaro, num jogo de palavras a que só o francês se presta: «Sébastien Lecornu a battu en retraite sur celles-ci.» Também nós, em Portugal, temos duas retretes. A primeira, a de toda a gente, mais conhecida por casa de banho (embora, com a invasão dos empreiteiros improvisados brasileiros, já surja em metade dos portais de venda de imóveis como «banheiro»). A segunda é a dos nossos emigrantes menos letrados, que dantes regressavam à sua terrinha para «gozar a retrete», esta mesma cuja reforma Lecornu teve agora de abandonar. São mundos diferentes, mas, no fim de contas, todos acabam a recuar. É curioso como a nossa «retrete», a modesta casa de banho, partilha origem com a retraite francesa, essa nobre palavra para reforma. Ambas vêm do latim retrahere, «puxar para trás», «retirar-se». E se, no caso da reforma, é o recuo simbólico da vida activa, na retrete é um recuo bem mais literal: retira-se o indivíduo do convívio, fecha-se a porta, por vezes à chave, e recolhe-se num cubículo onde, com sorte, só entra o silêncio. Um espaço de paz, de descarga (lembram-se do alvum feci da tal obra?) e, para alguns, talvez o único verdadeiro lugar de reflexão. (Não tenho livros na minha, não: mas posso apanhar um qualquer pelo caminho.)

[Texto 21 863]