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Linguagista

O verbo «pôr-se» continua exilado

É o que se arranja

 

      «Miguel Albuquerque, já arguido ele próprio num processo de corrupção, foi a eleições e foi o legítimo vencedor, mas aceitou formar governo numa situação de grande fragilidade, colocando-se nas mãos do Chega» («Quem quer mais umas eleições antecipadas?», Helena Pereira, editorial, Público, 10.11.2024, p. 4).

      A jornalista queria escrever «pondo-se nas mãos do Chega», mas para isso era preciso conhecer melhor a língua ou não recear as consequências de se desalinhar da moda. É o que se arranja.

 

[Texto 20 522]

Mal por mal, ficamos com «obsceno»

O que vou ouvindo por aí

 

      Ultimamente, tenho vindo a reparar que o adjectivo obsceno no sentido da terceira acepção que encontramos, por exemplo, no dicionário da Porto Editora («que gera indignação pelo seu carácter ofensivo ou atroz»), cujo uso nem todos os falantes compreendem, está a ser substituído por pornográfico. A última vez que o ouvi foi precisamente na terça-feira, no programa, a que nunca acho graça (mas há-de ser problema meu), Faking News, na TSF. Como são parcialmente sinónimos, deu-se esta mudança. Agora é rezar para que não passem a dizer lascivo ou lúbrico. Por exemplo, a frase do meu texto anterior, sobre tórico, ficaria assim na boca destes neofalantes: «Os poucos que estão dispostos pedem valores pornográficos.» Pois, não ficaria nada bem.

[Texto 20 485]

Como se escreve por aí

A má onda

 

       «Não é só Trump quem não fala aos jornais liberais, como o ‘Washington Post’ ou o ‘New York Times’. Biden também não. Têm isso em comum. Em três anos e meio, o presidente Biden não deu uma só entrevista a jornalistas que colocam questões difíceis» («TV substitui aparelho partidário», Eduardo Cintra Torres, «Boa Onda»/Correio da Manhã, 3-9.05.2024, p. 50). Também Eduardo Cintra Torres não resiste a «colocar questões». Não quer perder a onda. A má onda.

 

[Texto 19 913]