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Linguagista

Não aguentam o silêncio

Perguntem-me

 

      «A académica Erin Meyer, autora do livro “The Culture Map” (O Mapa Cultural), disse esta quarta-feira que, em média, os portugueses aguentam 2,5 segundos de silêncio até ficarem desconfortáveis, ao passo que outras culturas podem chegar aos 10» («Portugueses desconfortáveis com mais de 2,5 segundos de silêncio em conversa», Rádio Renascença, 2.07.2025, 13h38). Conversem comigo, para verem se eu me importo com silêncios demorados ou mesmo infinitos. E falem comigo, senhores jornalistas e tradutores, para saberem o que acho de «desconfortável», «desconforto» e outras merdas que tais.

[Texto 21 968]

O verbo «pôr-se» continua exilado

É o que se arranja

 

      «Miguel Albuquerque, já arguido ele próprio num processo de corrupção, foi a eleições e foi o legítimo vencedor, mas aceitou formar governo numa situação de grande fragilidade, colocando-se nas mãos do Chega» («Quem quer mais umas eleições antecipadas?», Helena Pereira, editorial, Público, 10.11.2024, p. 4).

      A jornalista queria escrever «pondo-se nas mãos do Chega», mas para isso era preciso conhecer melhor a língua ou não recear as consequências de se desalinhar da moda. É o que se arranja.

 

[Texto 20 522]

Mal por mal, ficamos com «obsceno»

O que vou ouvindo por aí

 

      Ultimamente, tenho vindo a reparar que o adjectivo obsceno no sentido da terceira acepção que encontramos, por exemplo, no dicionário da Porto Editora («que gera indignação pelo seu carácter ofensivo ou atroz»), cujo uso nem todos os falantes compreendem, está a ser substituído por pornográfico. A última vez que o ouvi foi precisamente na terça-feira, no programa, a que nunca acho graça (mas há-de ser problema meu), Faking News, na TSF. Como são parcialmente sinónimos, deu-se esta mudança. Agora é rezar para que não passem a dizer lascivo ou lúbrico. Por exemplo, a frase do meu texto anterior, sobre tórico, ficaria assim na boca destes neofalantes: «Os poucos que estão dispostos pedem valores pornográficos.» Pois, não ficaria nada bem.

[Texto 20 485]