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Linguagista

Pronúncia: «flotilha»

Só viagem de ida

 

      Ia jurar que vi algures — não direi onde porque não me lembro — que a pronúncia de «flotilha» é com o aberto. Era, aliás, como eu a ouvia, com espanto e quase dor de ouvidos, em certas rádios e televisões. Mas entretanto passaram-se semanas, a Flotilha Global Sumud (صمود, sumūd, «firmeza», «perseverança», conceito central da resistência civil palestina) derrota Gaza, li alguns milhões de palavras e perdi o rasto do sítio onde isso se dizia. Quem diz \flòtilha\ também dirá, imagino, \drògado\. Aprofundando um pouco (os dicionários e vocabulários são notoriamente parcos em indicações sobre pronúncia), descubro que a pronúncia aberta é hoje reconhecida apenas como forma não-padrão em Maputo. Já sabem para onde devem ir.

[Texto 21 808]

Como se fala por aí

Cada qual com os seus problemas

 

      Na Alemanha, a CDU venceu as eleições antecipadas com 28,5 % dos votos, enquanto a extrema-direita (AfD) conseguiu a segunda posição com 20,8 % dos votos. O próximo chanceler da Alemanha será então Friedrich Merz. Agora vamos ver como será. Por cá, o mais espantoso é como boa parte dos nossos jornalistas — os da rádio, mais do que os da televisão — não sabem pronunciar correctamente a palavra «chanceler». Mas qual é a dificuldade? E não ouvem os outros falantes?

[Texto 20 954]

Plurais metafónicos

Uma solução

 

      Ainda sobre a entrevista ao neurocientista Rui Costa no Primeira Pessoa. A propósito do cérebro, disse que «é o mapa de amores, de ódios, de gostos, de desgostos, motivações», e pronunciou mal os plurais «gostos» e «desgostos», em que não ocorre o fenómeno chamado metafonia, que é, na passagem para o plural, a mudança de timbre da vogal tónica. Lamento, mas gostos e desgostos não são plurais metafónicos. Forçosamente alguém, e este blogue tem cada vez mais leitores, conhece o neurocientista Rui Costa. Já sabem o que têm de lhe dizer. Por mim, os dicionários indicavam sempre a pronúncia, quer ocorresse metafonia quer não ocorresse. Passaria a haver menos erros? Quase de certeza que sim, mas sobretudo deixaria de haver desculpa para os erros. Não me estou, porém, a referir à transcrição fonética por meio do alfabeto fonético internacional, isso só serve para estudantes de Linguística, ou seja, é inútil para mais de 10 milhões de falantes em Portugal.

[Texto 20 893]