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Linguagista

Tradução: «garde à vue»

Têm de praticar mais

 

      «“No contexto de investigações desta natureza. É costume vir e fechar portas. Entre as hipóteses estava o aspeto intrafamiliar, que é o que deu origem a essa custódia policial e que espero que hoje possa ser descartado”, disse o advogado, acrescentando que a sua cliente “está agora a descansar, foram 48 horas tensas e difíceis”» («Caso Émile. Investigação admite que família pode não ser responsável pela morte», Olímpia Mairos, André Rodrigues e João Malheiro, Rádio Renascença, 27.03.2025, 6h58).

      Três a redigirem a notícia, e nenhum deles reparou que nós não usamos a locução «custódia policial». Então não dizemos detenção ou detenção para inquirição, senhores jornalistas? (E citam mal logo a primeira frase: «Dans le cadre d’investigations d’une telle nature [...] il est d’usage de venir fermer des portes.» Para três, não é mau — é péssimo.)

[Texto 21 100]

Como se traduz por aí

Pane Fišere, tohle byste měl vidět

 

      «Bohumil Fišer, da Administração da Paisagem Protegida de Brdy, conta à Radio Prague International, que contou a história primeiro, que as estruturas foram feitas com um posicionamento perfeito, aproveitando uma valeta construída por soldados para uma antiga base militar, que também estava contemplado por ambientalistas no projeto de revitalização da zona» («Castores constroem barragem e poupam 1,2 milhões de euros à República Checa», Diogo Camilo, Rádio Renascença, 12.02.2025, 1h18).

      Uma barragem numa valeta, Diogo Camilo? O original que cita fala em «bypass gully», o que, dadas as dimensões, será ou um «canal de drenagem artificial» ou um «desvio de ravina». E, ao contrário do que afirma, a barragem dos castores não é no rio Moldava, mas na região de Brdy, a sudoeste de Praga, aproximadamente a 50 ou 60 quilómetros de distância. Não olhou para o mapa... O artigo tem ainda outras incongruências, mas não vale a pena aprofundar mais: a amostra basta.

      Claro que, nesta altura, já tenho dúvidas que alguém em Portugal, tirando cantoneiros de vias municipais e autarcas, saiba o que é uma valeta. Com certos, demasiados, tradutores, que confundem azulejo com mosaico, tecto com telhado, erva com relva, ponta com pontada, não podemos contar. Este ainda exagerou mais: «O corpo de um homem de 67 anos foi encontrado ontem numa valeta com seis metros de profundidade, em Várzea da Serra, Tarouca» («Cadáver encontrado em valeta», T. V. P., Correio da Manhã, 12.02.2025, p. 14).

[Texto 20 909]

Tradução: «not guilty»

Atrás da facilidade

 

       «Se tivesse sido chamado para rever essa tradução, teria insistido na correcção de “inocente” para “não culpado”, é isso?» Respondi-lhe que sim. «Com todas as minhas forças.» O filme é o último («o mais recente», rebatem os totós) de Clint Eastwood, Jurado n.º 2. No contexto deste filme, era especialmente relevante, imperativo mesmo, não traduzir «not guilty» por «inocente». Vejam o filme, estudem um pouco o sistema jurídico norte-americano e já me dirão.

[Texto 20 794]