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Linguagista

Erros de sempre e para sempre

Só já escritores

 

      «Antes desse desempolgante desenlace, enquanto Conclave ainda se entretia a conclavar, ocorreu-me que todas aquelas manobras obscuras — cliques regionais, lobbies ideológicos, corrupção! — podiam facilmente ser aplicadas a outro processo dúbio» («Vamos conclavar o que ainda não foi conclavado», Rogério Casanova, «P2»/Público, 1.12.2024, p. 24).

      A pequena bio do autor, aqui e ali, garante que «teve sempre o cuidado de não fazer barulho nem incomodar as pessoas», mas parece que essa foi uma vontade que ficou no passado, porque agora já incomoda e faz barulho: então não é «entretinha» que se diz, Rogério Casanova? Por sorte, é um erro já com séculos, e hoje em dia só escritores caem nele.

[Texto 20 582]

O desgraçadíssimo verbo «faltar»

Agora só para ela

 

      As contas estarão certas, mas a gramática está errada: «Ao escolher o círculo eleitoral e o partido em que votou, pode perceber se conseguiu eleger algum deputado. É possível que apareça a seguinte mensagem: “Lamentamos, mas o seu voto não elegeu ninguém”. Afinal, um em cada nove votos foram “desperdiçados”, adianta o politólogo que estuda este tema há mais de 20 anos. Desde as legislativas de 1975, foram “para o lixo” pelo menos 9.003.816 votos, contando já com os dados destas eleições. Nota importante: faltam apurar ainda os resultados da emigração (Europa e Fora de Europa), que só serão conhecidos no próximo dia 20» («Mais de 673 mil votos foram “desperdiçados” nas eleições legislativas de 2024: foi um em cada nove», Mara Tribuna, Expresso, 11.03.2024, 16h43). Vá, mais uma infausta vez, agora só para Mara Tribuna: o sujeito do verbo faltar, que é pessoal, é outro verbo, o verbo apurar, que está no infinitivo. O valor nominal do verbo no infinitivo exige assim que o verbo faltar esteja no singular: «falta apurar». Difícil?

 

[Texto 19 526]

Se até linguistas...

Inacreditável

 

      «E, aqui entre nós, e que ninguém nos ouça, Cândido de Figueiredo errou, e errou feio, o imperativo do verbo abster-se: “Mutilai, esmagai ou abstei-vos”... (“A vida das abelhas”, [Maurice Maeterlinck] trad., 3.ª ed., cap. V, p. 114)» (Goyaz, Terra & Alma, Guimarães Lima. São Paulo: Horizonte Editora, 1983, p. 88). Filólogo e gramático! Os estragos que terá feito entretanto, com largas dezenas (!) de edições. Ainda está por aí à venda. (E eu vendo o meu exemplar, o 1416, do Vocabulário da Língua Portuguesa, de Rebelo Gonçalves, por 1000 euros. É pegar ou largar.)

 

[Texto 18 982]